A Academia Brasileira de Letras é, antes de tudo, a casa da memória. Apesar do prestígio que alcançou – fato único para uma instituição cultural – na sociedade brasileira, apesar da maciça programação de conferências, cursos, publicações, concertos, artes cênicas, que oferece ao público em todas as áreas do conhecimento e da sensibilidade, a sua maior missão e característica é a preservação da memória intelectual brasileira, sem a qual ela não seria a dispensadora daquela “glória que fica, eleva, honra e consola” de que falava Machado de Assis em texto célebre.
O presente ano, tão rico em efemérides, tem para esta Casa a importância única de ser o do centenário da morte do seu patrono e um de seus fundadores, Joaquim Maria Machado de Assis. A Academia Brasileira de Letras é, por antonomásia, a Casa de Machado de Assis, como a Academia Francesa é a Casa de Richelieu, e, sob este aspecto, ela nasceu sob um signo mais exclusivamente literário do que aquela na qual se espelhou.
Em pouco mais de um ano, de junho de 1908 a agosto de 1909, ocorreram três datas máximas na história da prosa no Brasil, uma de júbilo e as outras duas lutuosas, que são, respectivamente, o nascimento de João Guimarães Rosa, o falecimento de Machado de Assis e a morte trágica e precoce de Euclides da Cunha. Entre as duas se situa a despedida do grande mestre do Cosme Velho, deixando-nos uma obra vasta e magistral, marca de uma existência plenamente cumprida, para além de todas as dificuldades, uma existência que significa a vitória do gênio e do esforço humanos, grande exemplo moral que nos legou, juntamente com a obra, o maior escritor brasileiro de seu século.
Cícero Sandroni
Presidente da Academia Brasileira de Letras
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